SERRA, MAIS UMA VEZ, CANDIDATO DE SI MESMO

 Carlos Novaes, setembro de 2013

Mesmo arrastando evidências que se acumulam no transcurso dos últimos 11 anos, desde quando perdeu o tira-teima geracional, político-social e programático contra Lula, na disputa presidencial de 2002, Serra insiste em se auto-iludir com pretensões presidenciais, obstinado em  não reconhecer que é titular de uma trajetória política que já se cumpriu, tenha ela, ou não, os méritos que supõem.

Ainda que ele pudesse ter ignorado o significado explícito do resultado de 2002 e toda a dimensão simbólica dele decorrente, não poderia deixar de tirar da derrota na disputa pela prefeitura de São Paulo em 2012 a lição inescapável de que quem o derrotou não foi Haddad, mas seu próprio anacronismo: mesmo sem ter para onde correr, o eleitor não-petista (e até anti-PT) que participa daquele contingente sujeito a mudanças na preferência, próprias das campanhas eleitorais paulistanas, mesmo esse eleitor, na hora H, evitou a aventura com Russomano, mas não foi na direção de Serra, preferindo o “desconhecido” Haddad. Deveria ter sido o bastante, pois foi assim que outro obcecado reconheceu que o tempo dele passara: ao não se dar por vencido depois da derrota óbvia para Covas na disputa estadual de 1998, Maluf acabou por desistir quando foi derrotado por Marta na disputa para a prefeitura, em 2000.

No fim da carreira, Serra se comporta como se fosse disputar a primeira eleição, só que sem o pudor do novato, que esconde a certeza íntima de que é um predestinado: o tucano exibe a crença de que o destino lhe reserva um posto que a história insiste em mostrar a todos que ele jamais alcançará. Por isso mesmo, aparece isolado, no papel de profeta de si mesmo, como uma cartomante a colocar cartas e fazer amarrações para, em data certa, trazer de volta a pessoa amada que ela própria perdeu.

Uma candidatura presidencial pelo PPS, dando as costas ao PSDB precisamente porque os tucanos entenderam que o tempo de Serra já passou, só irá ampliar uma imagem que todos já conhecem: um Serra inconformado porque a vida lhe negou a realização do maior desejo.

Seria necessário que o país conhecesse uma crise sem precedentes (que não está no horizonte) e, diante dela, se configurasse um quadro ainda mais remoto: Lula insistir em pedir votos não para si, mas para Dilma; só numa situação assim, propícia à irracionalidade, e plena dela, com a ordem política de ponta cabeça, é que Serra poderia sonhar com uma remotíssima chance de chegar à presidência. Sem uma desordem dessas, o eleitor só dará um voto presidencial a ele por piedade.

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