SAÍDA LULA-FHC É REGRESSIVA — R E A Ç Ã O À LAVA JATO

Carlos Novaes, abril de 2017

Os desdobramentos previsíveis e, até, previstos, da conjuntura me desanimaram de escrever por um longo período neste blog. Notícia de hoje, sobre aproximação entre os braços intelectuais de PT e PSDB, me provoca a dizer alguma coisa. Faz algum tempo, abordei em mais de um texto os prejuízos da porfia vã entre estes dois partidos, que ao invés de se articularem para dar um passo adiante, preferiram uma polarização fajuta que deu sobrevida às forças políticas remanescentes da ditadura, o p-MDB e o PFL, enquanto arrastava tucanos e petistas para a vala comum da corrupção, contra-face da escolha de abandonarem a luta contra a desigualdade, em obediência ao dogma de que é inaceitável que os ricos percam (como os ricos não perdem, eles resolveram enriquecer também).

Essa aproximação entre PT-PSDB foi viável lá no início dos anos noventa. Naquela altura, a revista do CEBRAP, a Novos Estudos, em seu número 36, publicou sobre o assunto um ensaio de apresentação do tema e duas entrevistas, com Lula e Tasso Jereissati, que realizei junto com o sociólogo Álvaro Comin, material que deixa claro o quanto as duas forças já então estavam a se despedir dessa possibilidade. Falar nela agora é anacronismo, quando não uma vigarice. Trata-se de mera reação à Lava Jato, depois que ficou claro que a unilateralidade de Moro, embora real, não pôde permanecer (quisesse ele, ou não), uma vez que as forças desatadas impediriam qualquer conspiração totalizante, se alguém a pretendesse.

Como quer que seja, o PSDB foi embrulhado no pacote, e, agora, vai deixando claro, mesmo aos mais inocentes, que está unido ao PT e ao p-MDB contra os desdobramentos da Lava Jato, enquanto proclamam uma suposta missão comum de “salvar a política”, como se ela precisasse de salvadores – quem quer se salvar são os políticos profissionais, cujas traficâncias são o oposto da política e cuja prática, mesmo se honesta, jamais esgota o que se deve entender como a prática da política. A sociedade brasileira não está “demonizando” a política – ela desenvolveu uma aversão positiva aos políticos profissionais, que sequestraram a política e extorquem da sociedade um resgate permanente, em votos e dinheiros, sem nunca devolver a vítima, que terá de ser arrancada deles.

O mote para a neo-convergência da auto-intitulada “inteligência brasileira” é uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo, pesquisa esta que também já nasce velha: faz mais de vinte anos, pelo menos, que se sabe, por pesquisas conduzidas no próprio CEBRAP, no CEDEC e em outras instituições, que são traços marcantes na opinião pública de quem mora na periferia de SP idéias como “o que é público é para os pobres”, não bem comum; ou que a orientação esquerda-direita é tosca, frequentemente contrária ao que pretendem os que ainda continuam apegados a essa polarização infértil. Tampouco é novidade a desconfiança desses segmentos frente ao Estado e ao estatal, e sua adesão ao desagregador individualismo rompedor. Em suma, eles vão realizar mais um montinho de reuniões enquanto o calendário eleitoral não impuser a sua lógica e/ou a sociedade brasileira, em meio aos sofrimentos que lhe impõe nosso Estado de Direito Autoritário, não os contrariar com suas escolhas, para o bem, ou, como é mais provável nessa próxima conjuntura, para o mal de todos nós.

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  1. Luciana

    Novaes, por favor, não deixe de publicar seus comentários. São os únicos sensatos e verdadeiros.
    Você me deixou órfã. O brasileiro está desiludido e o pior é que não consigo enxergar nenhuma melhora tão cedo.

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