TRÁFICO DE HISTERIA APOCALÍPTICA

Carlos Novaes, 03 de novembro de 2020

Com acréscimos em 04/11 – 09:00h, em Fica o Registro

Assim como há poucos meses as mídias estavam inundadas de artigos apocalípticos sobre o fim das franquias democráticas no Brasil, com a suposta iminência de um golpe do besta, vivemos hoje, nas mesmas mídias, o auge apocalíptico sobre as eleições nos EUA. Tratam-se de rematada bobagem todas essas matérias, entrevistas e artigos sobre a ameaça à democracia americana que uma derrota de Trump traria. Tal como aqui, tudo não passa de alarido de campanha — a diferença é, como argumentei então, que aqui não havia eleição à vista, e lá eles estão em plena eleição.

Se perder, como indicam todos os números disponíveis, Trump irá entregar o poder sem maiores problemas, ainda que esperneando e vociferando. Se pretendesse afrontar os ritos republicano-democráticos, Trump ficaria ainda mais sozinho diante das FFAA, do Judiciário e do Legislativo americanos do que o besta ficou aqui, há poucos meses. Trump simplesmente acabaria preso por infringir a lei. Suas milícias de apoiadores marcharão para casa quase tão mansamente como se deu aqui; talvez com alguma arruaça passageira. Se aqui, num Estado em crise de legitimação qualhado de facções, o besta teve de se submeter, imaginem lá, onde as instituições são sólidas?! O besta americano não tem chances contra a lei.

Fica o Registro:

04/11 – 09:00h

A histeria apocalíptica segue seu curso, vejam exemplos no UOL de hoje:

  • “Indefinição da eleição mostra fracasso da estratégia democrata”. Como assim?! A estratégia democrata foi construída para obter a vitória, não para esmagar Trump. A estratégia só fracassará se Biden perder a eleição, o que a apuração, por enquanto, indica que não vai acontecer. Como ficarão análises desse tipo se Biden assumir a presidência dos EUA? E se, além disso, houver alguma, ou dupla, maioria democrata no Congresso?
  • “Trump expõe EUA como republiqueta”. Como assim?! Republiqueta seria se Trump, ao perder, pudesse levar no tapetão, ou se houvesse um golpe de força. Mas nada disso ocorrerá se Trump perder. Os EUA não são cenário de republiqueta — Trump é que é personagem de republiqueta.

1 pensou em “TRÁFICO DE HISTERIA APOCALÍPTICA

  1. Ricardo

    Ao menos a grita da imprensa norte-americana, exagerada, sim, serviu de estímulo extra para um maior número de americanos exercer sua cidadania nesta eleição. Mas concordo que, fora dos EUA, o alarido midiático não se justifica. Mas, como a pauta jornalística mundo afora só faz ecoar, em boa parte do tempo, o que é destaque nos grandes conglomerados de mídia, somos obrigados a engolir análises rasas que, em nome de um maior apelo, dão às vozes que cantam ficção nuança de verdade.

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