Insisto: para entender, mesmo, o que penso, e julgar por si mesmo, é importante ler também os hiperlinks.
Carlos Novaes, 05 de setembro de 2022
Com acréscimos e atualizações em Fica o Registro, em 06 e 07/09
Se, como entendo, não houve mudança substancial na situação de Bolsonaro entre setembro do ano passado e este mês de setembro, nem seria o caso de escrever sobre a “ameaça” que muitos insistem em adivinhar para daqui a dois dias — enfim, seria meramente o caso de indicar a releitura de dois dos artigos que publiquei neste blog por ocasião da efeméride nacionalisteira do ano passado, a saber: Desmoralização com data marcada: 8 de setembro, e Estelionato ideológico como “método“.
Ocorre que, se não houve mudança nos fundamentos que governam a conjuntura, há incremento que, talvez, acabe por fazer emergir alguma novidade. É que a situação de Bolsonaro piorou: primeiro, porque, apesar de todo o uso da máquina governamental, a oscilação dos números não alterou o desfavor nas pesquisas eleitorais, que é persistente e consistente; segundo, porque as facções estatais que apoiam o besta, sejam as de inspiração majoritária paisana (Centrão), sejam as de corte predominantemente militar, uma como outra deu sinal claro de que está na contramão até mesmo do mero blefe do golpe.
De modo que, quando se tem em mente as facções estatais, Bolsonaro vai para o dia 7 em situação ainda mais desfavorável do que no ano passado, o que não seria de estranhar, visto que essas facções seguiram em sua marcha inalterada desde a adesão do besta ao velho normal. Bolsonaro é que não consegue tirar consequências inevitáveis das escolhas que faz.
Na verdade, Bolsonaro até hoje não entendeu a confusão em que está metido — confusão que, aliás, é simétrica, embora contraposta, à vivida pela autointitulada esquerda: de um lado, o besta não atina a quem servir, se às facções (agarradas ao Estado de Direito Autoritário-EDA), se à sua “sociedade civil” antissistema orientada para a ditadura; por outro lado, a autointitulada esquerda agarrou-se ao sistema faccioso–EDA, sem atinar para as razões que a impedem de tirar proveito do auspicioso sentimento antissistema da maioria da sociedade, orientada para a democracia. Por isso, ao falso golpismo de Bolsonaro pró ditadura se contrapõe, na justa medida, o fajuto frentismo conservador da autointitulada esquerda em defesa (inócua) da democracia. Esse duelo banguela favorece quem se contrapõe a Bolsonaro não porque ele ameace a democracia, mas porque ele fez um governo indefensável, ou seja, ele escancarou as mazelas do Estado de Direito Autoritário em crise de legitimação.
Para piorar as coisas, o besta terá de tourear sua própria base dura, a que chamo de “sociedade civil bolsonarista”, que, não mão contrária das facções estatais a que Bolsonaro aderiu, está a viver o dia 7 como uma última cartada para a realização das suas fantasias ditatoriais. Quem acompanha este blog sabe que, há tempos, lá em 2018, defini Bolsonaro como um fenômeno novo, visto que o caracterizei como marionete das massas. Pois bem, o dia 7 se anuncia como um possível divórcio entre a marionete e sua base fanática. Em outras palavras, a massa bolsonarista vai ter de encarar o que tem teimado em não enxergar: os arroubos golpistas que Bolsonaro volta e meia ainda insiste em exibir vieram servindo de disfarce para uma alteração fundamental, isto é, desde a adesão ao velho normal o besta deixou de ser marionete sua para ser marionete do Centrão e adjacências.
Por mais gente que se aglomere, a desmoralização do próximo dia 7 pode ser de tal ordem, pode gerar um desalento tão grande nessa base mais fiel, que acabe por leva-la a um sensível esmorecimento no engajamento nas redes sociais, o que seria catastrófico para a candidatura do besta, que só não desceu a ribanceira porque está escorada nesse entusiasmo autoritário ainda existente — talvez ele persista, mas vem ficando difícil.
Fica o Registro:
– O alarido da mídia não cessa, e a “novidade” agora é que os aliados de Bolsonaro, ou seja, as facções estatais que ainda o apoiam, estão pedindo a ele moderação nos pronunciamentos que fará nos atos do dia 7. Entenda bem, leitor, leia devagar, para essas facções estatais aliadas, Bolsonaro deve ser moderado por duas razões: primeiro, e sobretudo, para não entrar em choque com as facções estatais adversárias, com as quais as facções ora bolsonaristas vão ter de se entender (e se refazer!) depois das eleições; segundo, mas menos importante (afinal, quem é do ramo já entendeu que a besta foi pro brejo), porque as facções estatais aliadas de Bolsonaro sabem que o besta não ganha votos sendo destemperado.
– Ao contrário do que a maioria pensa, não devemos temer o radicalismo das falas de Bolsonaro no dia 7. Não. Pelo contrário, para nós, que queremos derrotar Bolsonaro, quanto mais radical nas falas ele for, melhor. Veja bem, leitor, como tudo isso é teatro, quanto mais agressivo o besta se mostrar, maior será o contraste com a normalidade dos dias subsequentes, pois nada vai acontecer, ainda que possa haver alguma arruaça, como previ para o caso de Trump, nos EUA. Se radicalizar, Bolsonaro, além de abrir mais possibilidades para inquéritos futuros, ainda ficará duplamente desmoralizado: desmoralizado diante de quem não vota nele, e desmoralizado diante da sua minoria mais fanática, que gostaria de um golpe.
– Ao barrar a pretensão de Bolsonaro de liberar a presença de caminhões na Esplanada dos Ministérios, no DF, o governador, que é bolsonarista, deixou bem claro de que lado estão as facções estatais que ainda apoiam Bolsonaro quando o besta, para fazer pose de agrado à sua base mais dura, tenta simular ter algum poder de tiranete. Essa tentativa fracassada de Bolsonaro foi uma antecipação da desmoralização que ficará clara dentro de mais algumas horas.
07/09:
– A pasmaceira no DF foi mais melancólica do que no ano passado e, para ornar, Bolsonaro fez um discurso xoxo, que, secundado pela pregação brega do pastor que o antecedeu, fica como uma extensão bocó para o discurso vazio que ele já fizera no 7 de setembro do ano passado, que analisei, a quente, aqui. Vamos ver como vai ser no Rio, tendo em mente o fiasco do ano passado em SP.
– O palanque só com militares (que, constitucionalmente, precisam obedecer as ordens do chefe), sem a presença dos outros poderes, é o retrato do isolamento faccioso de Bolsonaro. As facções estatais adversárias isolam Bolsonaro ao máximo, orientadas que estão para a preservação do Estado de Direito Autoritário-EDA, agora sem Bolsonaro — o que vai levar a um redesenho das formações facciosas. Ontem houve uma prévia, quando a aliança entre o governador do DF (um bolsonarista) e o STF prevaleceu sobre os arroubos de tiranete do besta, que sonhou poder liberar caminhões na Esplanada e fez o Exército passar por mais um vexame: cadastrar caminhões para nada.
– A TV Brasil flagrou o que seria um desentendimento entre Bolsonaro e Michele. São imagens em que Bolsonaro parece impaciente e inconformado — o que já estaria preocupando aliados do besta. Tenha ou não tenha ocorrido, esse “desentendimento” será suplantado pelo que emergirá de Michele depois da derrota eleitoral de Bolsonaro, especialmente se ele vier a enfrentar os reveses judiciais que se anunciam.
– Diante do discurso eleitoreiro de Bolsonaro no Rio, sua base dura tem elementos para se dar conta de que tem sido lograda e, talvez, diga a si mesma que saiu às ruas pela “última vez”.
Dar holofotes à Leitão, militante de esquerda louca para que Lula ganhe e a quadrilha retorne, para deleito de sua vingança! Quem está por detrás dela? Por mais tolo ou tosco que Bolsonaro seja, parece ser atualmente a única saída para um Brasil livre desse passado sombrio!
Sombrio é Bolsonaro. Sombria é nossa situação atual, com um psicopata criminoso na presidência. Minha crítica à Miriam Leitão nada tem a ver com a sua raiva – tolo e tosco é você, que não entendeu nada e veio dar opinião disparatada aqui.
Necessária a resposta incisiva ao bolsonarista baratinado . Parabens e continue com sua saga brilhante de desvendar com exímia perspicácia e sensatez os rumos da política nacional. A nação brasileira precisa, se interessa e agradece!