BOLSONARO REPETE DALLAGNOL

Carlos Novaes, 19 de julho de 2022

Com acréscimo de um vídeo em 30/07

Com o PowerPoint cheio de falsidades com que humilhou o país que preside diante de embaixadores de outras nações, Bolsonaro repetiu o vergonhoso episódio no qual Deltan Dallagnol apresentou suas convicções contra Lula com base num PowerPoint fajuto. A simples repetição de um artifício amplamente desmoralizado já indica o grau de desorientação do besta.

Naturalmente, não faltará gente para ver na ação desastrada de Bolsonaro mais um passo dele na direção do poder ditatorial, afinal, para esses teóricos, Bolsonaro não pode ser avaliado pela lógica política convencional, requerendo dons especiais, que provavelmente incluem a telepatia… Dessa perspectiva, Bolsonaro estaria, mais uma vez, investindo no caos para colher mais adiante… Sei… O problema é que ele vem repetindo essa tática e não colhe nada positivo desde os votos que ganhou em 2018.

Felizmente, a maioria de nós interpreta a política segundo elementos lógicos elementares: quando um presidente da República, candidato à reeleição e perdendo apoio popular que há tempos já é minoritário, convida embaixadores de países amigos para enxovalhar o próprio país, dizendo inconfiável um sistema de voto eletrônico que veio sendo aperfeiçoado e exibe robustez fartamente comprovada, fica claro que se trata de um reconhecimento antecipado da própria derrota, quaisquer que tenham sido os cálculos geniais do flibusteiro.

Essa constatação, por si mesma, se reflete como desmoralização sobre o golpista, tornando-o ainda mais patético com a repetição do blefe e diminuindo as já exíguas margens para uma ação golpista bem sucedida. Bolsonaro volta a encenar seu estelionato ideológico trazendo de volta a matéria vencida do voto impresso. Levar isso a sério, tomar a pantomima como temíveis operações para um golpe de Estado, é fazer como aquele que sai ao quintal para se assustar com o espantalho que ele próprio instalou.

2 pensou em “BOLSONARO REPETE DALLAGNOL

  1. Ricardo

    Novaes, você parece muito certo de que Bolsonaro não tem condições de implementar seu projeto autoritário, e eu tendo a concordar. No entanto, num cenário em que Bolsonaro vença as eleições, você não acha que o golpe contra a democracia que ele pretende ficaria mais perto de se concretizar, já que a história nos mostra que é no segundo mandato que nascem os ditadores?

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    1. Carlos Novaes Autor do post

      Só não digo impossível uma vitória do Bolsonaro porque faltam mais de 60 dias para a eleição. Mas é quase impossível que Bolsonaro vença: primeiro porque é autoritário; segundo porque já não pode se apresentar como antissistema; terceiro, porque fez um governo desastroso. Ademais, a candidatura do Lula tomou o desenho de um movimento: é uma candidatura ônibus, na qual todos os segmentos não-bolsonaristas estão a embarcar — todos os dados indicam que vai haver um segundo turno no primeiro turno.
      Quanto a essa história de que os ditadores nascem no segundo mandato, que assumiu ares de “teoria” (kkkk), bem, para isso é necessário que o primeiro mandato tenha sido bem sucedido, isto é, tenha agradado a maioria — é o caso do cara da Hungria: ele contou e conta com o apoio da maioria daquela sociedade, ela sim conservadora e firmemente autoritária (assim como na Rússia). Ora, nem nossa sociedade é assim; nem Bolsonaro se credencia a ditador pelo que entregou no primeiro mandato; pelo contrário.

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