QUE MISÉRIA!

Carlos Novaes, 28 de agosto de 2022

Com acréscimos em Fica o Registro

Mais um debate desses e Bolsonaro pode desmoronar — e favorecendo a subida de uma mulher, no caso, Simone Tebet. Alguém poderia imaginar que Bolsonaro obteve no debate a confirmação do voto que já tem, mas não parece ser o caso: há uma franja dos que votam nele que deve ter ficado desapontada. A depender da repercussão nas redes sociais e também de debate futuro, o improvável pode acontecer — e se ele cair nas pesquisas, pode haver debandada.

Não será surpresa se Simone ultrapassar Ciro, pois o candidato do PDT, além de repetir o egocentrismo, não apenas insistiu numa equivalência descabida entre Lula e Bolsonaro, como já tratei detalhadamente aqui, mas foi além: fez um papelão quando, num momento crucial do debate, poupou a misoginia de Bolsonaro para enfiar uma crítica artificial (no caso) a Lula.

Lula foi mal no debate porque não deu resposta ao problema central da sua persona pública: a corrupção. Ele e o PT não conseguem uma resposta minimamente articulada para o problema da roubalheira na Petrobrás. Além disso, Lula tomou a iniciativa de trazer Dilma para o debate fazendo uma equiparação infantil entre pedalada fiscal e motociata, misturando a uma tolice certa soberba que pode lhe custar caro, como já tratei em Fica o Registro (aqui). Além desses dois momentos particularmente ruins, Lula deixou a desejar na articulação das outras respostas e acabou compondo a imagem de alguém fora do tempo, num certo alheamento cansado. Enfim, com esse desempenho não fecha a eleição no primeiro turno.

Fica o Registro:

– Lula não falou em rachadinha assim como não pôde responder sobre a Petrobrás. A rachadinha é uma prática corrente em várias Câmaras de Vereadores e Assembleias Legislativas e políticos profissionais do PT já foram acusados de praticá-la. Esse tema é parte da interdição que a corrupção exerce sobre o lulopetismo.

– Essa interdição da corrupção está diretamente ligada ao fato de que o azeite das engrenagens do Estado de Direito Autoritário é um blend de corrupção, privilégios, prerrogativas e foros especiais. E Lula é a grande esperança das facções do Estado de Direito Autoritário, facções que conseguiram a proeza de orientar todas as forças ativas da sociedade civil progressista e da autointitulada esquerda para a defesa desse Estado que infelicita a maioria de nós enquanto as atende plenamente!

– O debate do debate, feito no CALMA URGENTE!, é muito instrutivo pelas suas qualidades e pelas suas limitações. As qualidades, partilhamos. Mas o tom de indignação sobre Bolsonaro “tornar dizível o indizível”, sobre a defesa liberal da relação “empregado-empregador” etc, é um primor do verniz de classe média arranhado que precisamos superar. Não se trata de interditar essa linguagem e ou temática, temos de não cair nela e perseverar pelo contraste. O fato de essa linguagem ser aceita nos informa do trabalho que temos pela frente. Nada disso, porém, deveria, muito menos, nos levar a endossar o Janones ali onde ele decalca o bolsonarismo, como fizeram contraditoriamente no CALMA URGENTE!

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