Carlos Novaes, 14 de setembro de 2022
Com inclusão, em 15/09, de hiperlink para artigo sobre Vera Magalhães
O episódio com a jornalista Vera Magalhães ao fim do debate entre os candidatos a governador no Estado de São Paulo serve como uma exibição concentrada do barata-voa que se instala no bolsonarismo: 1. O chefe destratou Magalhães no debate presidencial; 2. O fanático discípulo bolsonarista ataca a mesma jornalista no debate para governador (mas o faz fora do tempo, pois o chefe já está com outra tática); 3. O candidato bolsonarista a governador, com tática diferente dos dois anteriores, percebe o desastre e repele o fanático; 4. Um dos truculentos filhos do mito, tentando sintonia com o pai, repreende o fiel escudeiro e defende a jornalista agredida; a qual, por sua vez, 5. É, ela própria, uma reacionária que fez parte da franja externa do bolsonarismo.
Quer dizer: essa balbúrdia se dá, toda ela, dentro dos anéis bolsonaristas, o que deixa confusa a base, num aturdimento que se soma à desmoralização que antecipamos aqui para o 7 de setembro. São cada vez mais visíveis os sinais de que a candidatura de Bolsonaro pode desmoronar, pois tudo isso não apenas impede ganhar novos eleitores, mas, sobretudo, deve provocar perdas nas franjas menos convictas do voto em Bolsonaro, com muita gente fugindo da foto ao lado de um fanfarrão desmoralizado.
Enquanto isso, há cada vez mais sinais de que a candidatura de Lula pode superar a pequena distância que ainda o afasta de uma vitória em primeiro turno, o que gera um desespero de segundo nível, dessa vez nas franjas mais conservadoras do establishment. A coisa chegou a tal ponto que o Estadão e o Grupo Globo, por exemplo, desenvolveram um apego repentino à realização de um segundo turno presidencial, com teoria mirabolante sobre a relação entre dois turnos e democracia, como se o eleitorado não pudesse fazer sua escolha dispensando, democraticamente, a segunda etapa da disputa.
Não é que eles se empenhem em uma derrota de Lula, cuja provável vitória já absorveram. Na verdade, eles se deram conta de que, se ganhar no primeiro turno, Lula irá participar como presidente já eleito das campanhas a governador que forem para o segundo turno. Isso fará dessas campanhas, que são curtas, uma marcha triunfal de Lula para fazer vitoriosos os candidatos que apoiar. Vejamos alguns casos: em São Paulo, por desejável que seja (e é), uma vitória de Haddad parece difícil se ele tiver que disputar um segundo turno sem que Lula tenha se desvencilhado da disputa presidencial já no primeiro. Se Lula vencer de cara, porém, será o contrário: a candidatura de Haddad se tornará quase imbatível.
O mesmo no Rio, no Ceará e até em Minas; para não falar em Pernambuco e na Bahia. Na primeira dessas disputas nordestinas, por exemplo, mesmo que Marília Arraes tenha de enfrentar um segundo turno contra o PSB, um Lula vitorioso não poderá deixar de contribuir, direta ou indiretamente, para a vitória dela; no segundo caso, o da Bahia, se ACM Neto não ganhar no primeiro turno, poderá ter severas dificuldades no segundo, pois terá de enfrentar Lula em caravanas embaladas pela vitória.
É essa onda que o establishment quer evitar quando faz a defesa do segundo turno como uma necessidade democrática…
Fica o Registro:
– Ciro Gomes, cumprindo o script mais pessimista, que há tempos se vislumbrou aqui e aqui, passou de patético a daninho. Com ares de teórico, fala, agora, em “fascismo de esquerda” só porque sua candidatura, como previsto, naufragou, e em razão das suas próprias escolhas. Depois do equívoco político de dar combate simétrico a Bolsonaro e Lula, o coronel envernizado passou a poupar o fascista para atacar Lula, cujos defeitos são graves e merecem crítica, mas nada que se pareça com as injúrias assacadas por Ciro.