Carlos Novaes, 18 de janeiro de 2023
Depois de titubear a ponto de ceder o protagonismo a Moraes, Lula começou a entender e, agora, parece mesmo ter entendido que não há o que temer dos militares, que estão sendo levados a encarar, sem blefes, quem manda: a maioria da sociedade brasileira, que prefere democracia e repele o facciosismo do “sistema” (EDA) sempre que consegue enxergá-lo — e, convenhamos, não há, hoje, facciosismo mais explícito do que o dos militares, cujas manobras visando aumentar o poder de barganha no âmbito do exercício faccioso dos poderes institucionais já chegaram ao ridículo. Façamos um apanhado da linha de análise que temos desenvolvido neste blog.
Para tirar vantagens de Bolsonaro, os milicos não repudiaram seus blefes golpistas e foram se enrolando até a desmoralização com a história da urna eletrônica. Com a derrota eleitoral do blefador, se viram isolados e passaram a criar tensão não menos blefadora com sua leniência ante os acampamentos golpistas. Adiante, fingiram que o quebra-quebra no DF não era com eles e, dobrando a aposta no blefe, foram até o ridículo de “mobilizar” blindados para dar retaguarda ao recuo dos criminosos. Nesse ponto, Moraes agiu e o blefe deles ruiu, pois tiveram de assumir a posição que sempre lhes fora a única: o golpe é mito, os criminosos têm de pagar por seus crimes e, assim, foram escoltados aos ônibus que os conduziram à prisão. Afinal, o que falta para todo mundo entender a derrota monumental dos militares?!!!
Como dito à quente, Múcio teria de ter caído. Mas a mídia convencional deixou clara a generalizada preferência pela acomodação facciosa. Apoiando-se, inclusive, na autointitulada esquerda (que não cansa de dar provas de oportunismo, travestido de “moderação” e “pacificação”), essa imprensa que apoiou o golpe contra Dilma ficou promovendo a manutenção de Múcio, como se a substituição dele pudesse gerar alguma reação militar. Os tolos têm esse temor; já os espertos não querem que Lula se apresente com a força constitucional que as urnas lhe deram. Se tivesse demitido Múcio, Lula teria dado um passo que o país espera desde a redemocratização truncada.
Mas o que Lula não soube ver em ato, em 10 dias a vida lhe ensinou. De modo que, embora tardiamente, ele vai deixando claro o que pensa dos militares e, sobretudo, está a entender que pode ir mais longe do que imaginava no dia 08: vem fazendo demissões militares com certo alarde e até reproches, sem a discrição que a “prudência” “pacificadora” recomendaria.
Os militares sentiram a mudança de ventos e, tal como fizeram com Moraes em torno da urna eletrônica, passaram a mendigar uma saída para a fragilíssima situação em que se encontram diante da opinião pública e na própria luta de facções estatais. Não é hora de adulá-los!
Vamos ver até onde Lula irá.