O GOLPISTA É, ANTES DE TUDO, UM FRACO*

Carlos Novaes, 06 de janeiro de 2023

Todo início de ano requer rearranjos. No artigo de ontem tratamos da montagem do ministério de Lula. Tratemos hoje da desmontagem dos acampamentos golpistas pró-Bolsonaro.

Quem tem acompanhado o desmonte dos acampamentos em torno de quartéis não pode deixar de constatar, finalmente, que os indevidamente chamados “radicais” do bolsonarismo, que insistem na súplica por um golpe, são, antes de tudo, uns fracos.

Esses ajuntamentos patéticos desmentem não apenas os temores de quem passou anos alardeando um golpe do blefador Bolsonaro, mas também as análises de quem vem teorizando que o bolsonarismo representa uma via revolucionária de direita no Brasil.

O bolsonarismo golpista é uma movimentação de fracos e impotentes que, por isso mesmo, fizeram de seus ressentimentos não uma força de ação, como seria o caso no impulso à revolução, mas uma lamúria pública. Eles estão há anos choramingando e, como não poderia deixar de ser, rezando para que outrem haja por eles, passividade que é o oposto da atitude revolucionária. Essa condição de raiz ajuda a entender, agora retrospectivamente, porque Bolsonaro sempre foi marionete de sua massa, e não o líder dela, como expliquei aqui faz anos.

Desde a imagem de Bolsonaro na rua, diante da massa, berrando “acabou, porra!” até a imagem do mesmo Bolsonaro em quartel, diante dos milicos, chorando silenciosamente como um garotinho que levou uma reprimenda, temos o arco de toda a trajetória do golpismo: sem chão, sem agente, sem sentido — trajetória em que a massa e seu marionete sempre estiveram em sintonia paralisante, tentando fazer parecer que inércia é fibra: um esperando que o outro quebrasse a passividade e abrisse como por milagre o caminho para a tomada de um quimérico poder total.

O marionete, nada disposto a correr riscos, covardemente se escondia em seguidor da massa, que deveras é, dizendo “quem decide são vocês!”; a massa, por sua vez não menos covarde, diante dos riscos de tomar a iniciativa se escondia sob lealdade espertalhona berrando “eu autorizo!” para fustigar o espertinho que tinha diante de si — um não queria fazer antes o que sabia que o outro não ia fazer depois**.

* – Em passagem célebre de Os Sertões, Euclides da Cunha disse: “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”.

** – Peço desculpas por arremedar o grande poeta ao tentar elucidar matéria tão vil. Veja, de Cassiano Ricardo, o poema Gog & Magog.

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