Carlos Novaes, 09 de outubro de 2013
Até o TSE negar injustamente o registro partidário à sua Rede, a ex-senadora Marina Silva parecia se conduzir na cena política segundo três balizas: um presumido partido programático inovador, uma candidatura presidencial para 2014 e a possibilidade de desempenhar o papel de força contraposta à falsa polarização PSDBxPT.
Ante a decisão desfavorável do tribunal, Marina se filiou ao PSB e, com isso, deu a impressão inicial de que o fazia para perseverar no caminho que sugeria já trilhar: mantinha o projeto da Rede, sem manchá-lo com o oportunismo pragmático de uma candidatura presidencial improvisada em algum partido nanico de aluguel, e viabilizava, com sua participação, uma força eleitoral que pelo menos desde 2009 tem uma avenida aberta no cenário político brasileiro: uma alternativa ao projeto já esgotado em que o PT e o PSDB se engalfinham numa porfia vã pela autoria regressa.
Movimentações mais recentes, porém, deixam no ar que as escolhas podem ser outras – e nada boas. Ao desmobilizar os esforços que permitiriam concluir a legalização da Rede o mais rápido possível e ao cobrir com a tensão das evasivas a condição de cabeça de chapa de Eduardo Campos, Marina dá indicações de que não enxerga o contraste entre os grandes sonhos que motiva com os gestos largos que descortina e as resultantes apequenadas em que sempre acaba por se enredar.
Se a Rede era para ela mais do que mero instrumento para uma candidatura presidencial, se tinha na Rede um partido programático voltado para a inovação política, nada seria mais urgente do que concluir a sua legalização visando engajá-lo, desde o início e enquanto coletivo, nas discussões e deliberações acerca das escolhas a serem feitas para as eleições de 2014. Se a ida para o PSB se deu para fortalecer a construção de uma alternativa, e não foi mais uma jogada típica dos que pensam que política é como nuvem, então Marina deveria deixar claro que aceitou o revés advindo de suas próprias escolhas erradas e proclamar desde já a condição de Eduardo Campos como cabeça de chapa, deixando a posição de vice para ser apreciada coletivamente pela Rede, já como partido legal, no transcurso do primeiro semestre de 2014, período em que seus companheiros redistas teriam a oportunidade democrática de dar desenho programático final à sua escolha inicial, que fora individual porque (vá lá) premida pelas circunstâncias.
Mas não. Marina trata a energia da Rede como uma rapadura a ser levada debaixo do braço para ser roída no momento em que ela e quem ela ouve apreciarem oportuno. Começam a parecer quase propositais os becos sem saída em que a ex-senadora se mete, estreitos na medida de justificar decisões em petit comitê. Nada justifica que mais uma vez se desarrume um arranjo coletivo, que só voltará a ser mobilizado para os salamaleques pseudo-democráticos que já vão virando rotina em sua trajetória. Quanto à filiação ao PSB, Marina dá sinais de encará-la como ainda uma oportunidade de ser candidata a presidente no ano que vem, sem dar mostras de entender que ou Eduardo Campos será candidato a presidente pelo partido que controla, ou simplesmente trocará essa alternativa por outra, que, seja qual for, impedirá o PSB de ter candidatura própria à presidência em 2014. Numa situação assim, faria ainda mais sentido contar com a chamada Rede como um partido ativo, conjunto que daria robustez seja a uma candidatura de Eduardo, seja à fixação de uma imagem de autonomia e independência para ela e os seus, mormente no caso de ter de se distanciar programaticamente (vá lá) do pernambucano.
Em suma, Marina não deveria tratar a Rede como se fosse um Costa Concórdia a ser abandonado nas areias do TSE para ser desencalhado só um ano depois – correndo o risco de descobri-lo irrecuperável; nem sugerir que poderá submeter o timoneiro do PSB a uma derrota que ela não deu conta de aplicar sequer no caricato líder de araque do PV. Resta esperar que ela atenda aos apelos de “volte ao barco”, retenha o que resta de seus melhores marinheiros e, juntos, o conduzam ao mar alto a que ele parecia orientado, tendo a lealdade de em seu velejar para transpor a arrebentação não criar marolas inúteis contra quem lhe cedeu combustível e a quem, com acerto ou não, acenou para indicar navegação no mesmo rumo.