Carlos Novaes
agosto de 2014
O projeto do PSB era Eduardo Campos, sem plano B. Todavia, o censo de realidade, a habilidade e a generosidade de Campos não permitiram que o tamanho político de Marina deixasse de receber a iluminação devida e, por isso, no curso dos últimos meses, a imagem que se projetou no pano de fundo da paisagem eleitoral foi a de uma dupla, ainda que protagonizada por ele. Assim, ante o desaparecimento brutal de Campos, Marina está na posição em que sempre esteve: mais do que vice, ela sempre foi uma alternativa. Essa solução se impõe antes de qualquer cálculo ou estratégia política, ela resulta da própria situação, da própria realidade, e é assim que ela aflora na cabeça de todos. Fossem outras as circunstâncias, os recalcitrantes da cúpula do PSB seriam motivo de escárnio por não enxergarem o óbvio: o PSB não tem escolha, a alternativa é Marina. As escolhas só se colocam à partir desse ponto de largada, vale dizer, o embate entre o virtuoso e o vicioso da política, especialmente da política eleitoral, não poderá condicionar a opção Marina, só tendo lugar uma vez que se tenha reconhecido esse marco incontornável.
O apoio dos adultos da família de Eduardo Campos tem peso – e eles favorecem Marina. Tem peso em razão do lugar que, felizmente, os afetos ainda desempenham na política; e favorecem Marina não para garantir-lhe a vaga, mas para que ela possa exercer com proveito público a condição de cabeça de chapa, que já é sua, num arranjo de forças e interesses políticos que não foi armado sob a sua liderança. Contra Marina estão aqueles que, adversários entre si, vêem o PSB como instrumento de interesses que só podem se realizar em condição subalterna, como linha auxiliar de um dos dois blocos de força em que a política brasileira se divide improdutivamente: PT e PSDB. Manda-chuvas nacionais do PSB preferem alinhamento com o PT; em São Paulo e Minas há quem se arrume melhor com o PSDB. Eles não enxergam o que Eduardo Campos viu com clareza: além de esgotada até mesmo como ferramenta fisiológica, uma política de acomodação como a que caracteriza o paquiderme PMDB não permitiria construir nada além do mesmo.
O apoio dos que querem transformação será decisivo – mas só favorecerá Marina se ela não se deixar amarrar pelas idéias velhas, se ela não aceitar a escolha entre dilemas superados, e se ela demonstrar ter entendido que a dimensão espiritual das preferências humanas é ela mesma uma preferência. O problema não é esquerda ou direita; a escolha não está entre estado ou mercado; o bem não está senão nas relações que pudermos estabelecer entre nós mesmos na ação política. O problema é a desigualdade; a escolha é entre política e negócio; o bem está em relações políticas que só podem ser alcançadas se as amarras da representação profissional forem rompidas.
Mais ainda do que em 2010, Marina pode despertar uma onda pela transformação. Marina pode ganhar – até mesmo se o instinto de preservação do PT vier a empurrá-lo para uma troca atabalhoada na cabeça da chapa.