NOTAS CURTAS – 1, 19/08/2014

Carlos Novaes, 20 de agosto de 2014

Apresento abaixo avaliações de programas eleitorais centradas em aspectos mais formais. Mais adiante, quando houver material acumulado, incluirei análise mais detida do conteúdo.

PSB –  O partido fez uma homenagem correta à memória de Eduardo Campos, invocando o passado recente para dar corpo à emoção do presente, com uma tão discreta quanto adequada referência ao futuro, sem nenhum apelo eleitoreiro. Marina, adequadamente, não apareceu. Muito bom.

PSDB – O programa de estréia de Aécio no horário nobre noturno foi um desastre. Embora com a ideiazinha interessante de mostrar o candidato junto ao eleitor, recorrendo à filmagem da recepção de seu discurso em diferentes telas, o efeito almejado acabou por se perder porque o candidato pouco olhou para o eleitor, isto é, para a câmera. A maior parte do tempo ele fitava o horizonte, talvez para parecer “estadista”, “visonário” ou lá o que seja. O detalhe é que essa escolha contraria a imagem de “conversador próximno” que o candidato vinha buscando construir até aqui. No primeiro programa ficou estampado que o conceito da campanha de Aécio não está claro para seus realizadores.

A esses ruídos vieram somar-se a edição repleta de cortes improdutivos, onde a pança e as mãos do candidato ajudavam a embaralhar a recepção a um discurso já de si embaralhado, dificultando a retenção do que quer que seja. Para piorar, o vetor político que deve orientar a campanha não foi apresentado às claras, em mais uma tibieza conceitual que contrasta com a ideia de liderança: Aécio, acertadamente, pretende deixar o período Lula fora do embate com Dilma, mas fez isso pela metade e, portanto, sem clareza e sem coragem. Se é para adotar essa linha, que seja por inteiro, invocano os êxitos que enxerga no período FHC, reconhecendo que apesar dos muitos erros que vê (e pode nomear) no período Lula, ele foi bom para o Brasil, para então deixar claro porque, na sua opinião, Dilma malbaratou o legado recebido – mas não, ficou num nhe nhe nhem indireto, sem pegada.

O primeiro programa de Aécio foi confuso e não gerou memória: depois de assisti-lo, mesmo o simpatizante não teria o que reproduzir. O toque fajuto ficou por conta do colírio aplicado nos olhos de todos os participantes, por certo para simular o brilho de uma emoção que, definitivamente, o discurso não teria como suscitar.

PT – Se Aécio pouco encarou o eleitor, Dilma não o fez em momento nenhum. Tudo se passou como se ela precisasse ser apresentada de forma indireta. Foi uma chancela surpreendente, mas realista, à evidência de que ela não possui luz própria, mesmo depois de ocupar a presidência por quatro anos. Para piorar as coisas, ficou a cargo de um Lula carrancudo encarar o eleitor, com o que se insiste contraproducentemente na relação assimétrica criador-criatura.

Possuindo o maior intervalo de tempo, a campanha o desperdicou com uma entrevista artificial, entremeada com um clip fraquinho e um jornalismo fajuto, onde até uma inverossímel Dilma dona-de-casa-como-qualquer-outra  foi improvisada – constrangedor.

O enquadramento de Lula com dentes arreganhados só não foi pior do que o conteúdo da sua saudação à memória de Eduardo Campos, uma apropriação claramente eleitoreira: uma presumida relação pai-filho com o político desaparecido (que não a pode contestar), e um sequestro no mínimo deselegante das últimas palavras do morto sobre o futuro, matéria de que trata a eleição e sobre a qual Eduardo tinha, por definição, uma concepção alternativa, outra, apartada da defendida pela candidata que Lula apóia.

PSC –  O candidato pastor apresentou seu trivial menu conservador de forma não menos trivial.

PSOL – Levando em conta as limitações materiais e de tempo, Luciana Genro cumpriu o papel esperado, embora com base num texto desleixado, sem conceito, onde o pouco tempo disponível permitiu até mesmo a inclusão de um chavão inócuo, quando não prejudicial: “conto com você” (e no primeiro dia!) – francamente.

PV – A rica e sólida biografia política do candidato Eduardo Jorge foi mal apresentada, com textos diferentes em audio e video impondo tarefa dupla ao eleitor e, no caso dos textos em video, as cores impuseram entraves intransponíveis à leitura. Muito ruim.

2 pensou em “NOTAS CURTAS – 1, 19/08/2014

  1. Soraia Kuya

    eita Novaes, graças a vc ñ preciso mais assistir ao espetáculo + farsesco da tv, o horário eleitoral gratuito. muitíssimo obrigada, pois lendo aqui já ficomelhor informada impossível, e sem me estressar..
    outro dia até parei em frente à tv, q falava sozinha na sala, pra ver o Tiririca – mas ele tbm não tem mais graça..

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