Carlos Novaes, 18 de agosto de 2014
Como esperado, o primeiro levantamento eleitoral depois da morte de Eduardo Campos mostra Marina em segundo lugar. Realizada a quente, a pesquisa DataFolha não capta a totalidade do fenômeno que pode estar em curso, mas mostra aspectos importantes: Marina virou opção para parte daqueles que vinham se refugiando no voto nulo ou branco, ou estavam indecisos; Marina bate Dilma em cenário nacional de segundo turno e Marina amplia a vantagem nas regiões metropolitanas e nos municípios com mais de 500 mil eleitores. Ou seja, Marina sensibiliza o eleitor mais exigente e mais submetido à diversidade de opinião e informação que o frenesi das grandes conurbações proporciona – o que vai permitindo afastar a interpretação de que essa seria uma reação basicamente emocional (é bem o contrário: a emoção atingiu a todos, mas quem se inclina primeiro na direção de Marina é o eleitor mais informado, que quer mudança, sem prejuízo de estar “emocionado”).
No caso do cenário de segundo turno em seu conjunto, temos um parâmetro para avaliar tanto o teto de Dilma, que não é animador, quanto o potencial de Marina, que não poderia ser mais auspicioso, pois aqui se incluem eleitores de todo o país, vale dizer, a onda de impacto vai se espraiando e desde logo a opção Marina sensibiliza o eleitor que não opta por Dilma, embora tenha outro candidato no primeiro turno. Em outras palavras, o resultado da simulação de segundo turno mostra Marina como uma alternativa para a maioria dos eleitores. Marina alcançou e ultrapassou de chofre a dimensão emocional da campanha – o desafio para ela está na dimensão racional da eleição, nas propostas que vai apresentar, e no como vai apresenta-las.
O refugo de Aécio diante da mudança é um erro monumental e, se se tornar marcha à ré, irá sacramentar sua candidatura como a opção conservadora da eleição, afastando-o do diálogo predominante sobre a necessidade da mudança que vai adiante. O desafio para Aécio é escapar da imagem de que é o candidato que quer retroceder. Ele precisa descobrir que embora o sentimento do medo seja conexo ao tema da Segurança e esteja disseminado na sociedade, a discussão de uma alternativa de gestão para um país que quer mudança não pode se apoiar naquele sentimento – a “segurança” está além do medo. Em suma, não dá para falar de coragem para mudar e, ao mesmo tempo, invocar o medo para não mudar tanto…raciocínio que vale também para a campanha de Dilma, que prega “mais mudança”.