Carlos Novaes, 11 de novembro de 2104
Marta Suplicy é corajosa, ainda que na maioria das vezes suas atitudes personalistas não tenham exatamente os resultados pretendidos por ela. Depois de acertadamente ter feito uma campanha eleitoral menos tensionada para a prefeitura em 2000, a ponto de obrigar um Maluf desesperado a inutil e insistentemente lembrar ao eleitorado paulistano de que ela era a “dona Marta, do PT“, a candidata vitoriosa foi para a festa da vitória na av. paulista gritar “sou, sim, a dona Marta do PT“, levando a multidão petista ao delírio, enquanto dava uma bofetada no eleitorado não-petista que havia votado nela. Em linha com o discurso da vitória, fez um governo tensionado, de enfrentamento, numa sucessão de erros que a indispôs com Lula e culminou em contraria-lo com a escolha de Rui Falcão para vice na chapa que disputou e, claro, perdeu a própria sucessão.
Quando finalmente se reaproximou de Lula, foi para o Ministério do Turismo, mas sob a condição de não poder levar com ela aquele pedaço da burocracia petista em cujos interesses eleitorais ela havia se deixado enredar, erro que Lula nunca cometeu: sempre jogou o jogo com Zé Dirceu, mas nunca aceitaria te-lo como vice, deixando-se instrumentalizar pelas ambições de quem tem força na máquina mas não dispõe de voto e está sempre à espreita de uma carona no carisma alheio.
Marta aceitou o veto, rifou os aliados, e foi ministra de Lula, jogada cujas consequências ganham as ruas no empurra-empurra de uma carroceria de caminhão na campanha de SP em 2014: Rui Falcão quis impedi-la de subir e ela não aceitou o veto. Ficou público que de queridinha da burocracia ela passara definitivamente a inimiga, o que ajuda a explicar tanto sua saliente participação no “volta Lula” quanto, e mais ainda, sua saída do ministério nos termos em que o fez.
Se Marta “se posicionou” pelo volta Lula porque entendia que era o melhor para o país (como alude provocativamente no final da sua nota de demissão), não é menos certo de que também o fez porque enxergou o alinhamento de Rui Falcão com Dilma. Ao sair do Ministério da Cultura sem esperar a data para o “convite à demissão” ela faz sua jogada mais ousada e mais arriscada: rompe com a burocracia e com a presidenta enquanto corteja o eleitorado majoritariamente crítico ao PT em SP, pois ao invés de se enquadrar no discursinho oficial lulopetista da “volta às origens”, ela atira contra a política econômica reclamando luzes que só poderão vir dos spots acesos pela oposição tucana. Por enquanto, Lula vai ter de engolir essa porque pode vir a precisar de Marta em 2018.