MAIA LAVOU AS MÃOS

Carlos Novaes, 15 de outubro de 2017

Quem acompanha este blog deve lembrar-se do que publiquei aqui — em três artigos escritos entre junho e julho passados — sobre a condição simbólica de Temer na presidência e de que, por isso, ele só cairia se a Câmara pudesse lavar as mãos – mas não antes de ele ter distribuído toda sorte de benefícios em troca do apoio dos políticos profissionais. A julgar pela entrevista de Rodrigo Maia à Folha de S.Paulo (publicada no fim da tarde de hoje no UOL), parece que se caminha para um desfecho assim.

Usando como pretexto uma declaração sem importância do advogado de Temer sobre a divulgação de videos que incriminam seu cliente, Maia assumiu ares de vestal ofendida e convenientemente deu o segundo passo explícito para a perdição de Temer (o primeiro fora justamente a publicação pela Câmara dos videos mencionados): disse que irá apenas presidir a sessão na qual a Câmara poderá, seguindo seu presidente, lavar as mãos e deixar Temer por conta do STF, uma vez que já não há o que arrancar dele que compense o desgaste de mantê-lo no cargo – pode ter chegado a hora em que falará mais alto a conveniência eleitoral de passar à “novidade” de Maia na presidência da República.

E essa hora pode ter chegado porque, para além do peso eleitoral da impopularidade de Temer, para além do fim das vantagens que o compensavam, talvez a cabeça do golpista seja o último pedágio a ser pago para chegar ao fim da longa estrada que tem sido a luta contra as facções republicanas da Lava Jato. A queda de Temer funcionaria como uma pinça para o fim da sangria, dando fecho ao que foi decidido no STF, que disfarçou como um gesto institucional (celebrado pelos institucionalistas de plantão) de respeito ao Legislativo um acerto podre com a banda não menos podre do Congresso, simbolizada na figura de Aécio.

Talvez não seja apenas um acaso o fato de o vice (e sucessor) de Maia na presidência da Câmara, deputado Fábio Ramalho (p-MDB de Minas) ter declarado recentemente que a Lava Jato precisa ter um prazo para acabar. Em resposta a ele, o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, da Lava Jato, afirmou: “acabar com a Lava Jato. Esse parece ser o próximo passo do p-MDB. Infelizmente muitas pessoas que apoiavam a investigação só queriam o fim do governo Dilma e não o fim da corrupção.” Eis uma conclusão que, além de tardia, não chega a ser brilhante…

Nesse embalo, já não parece tão certa a confirmação de alguma condenação para Lula e, então, terá chegado a hora de nos ocuparmos não do porquê de as facções republicanas da Lava Jato terem sido afinal contidas, mas sim de como foi possível que elas tenham chegado tão longe.

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