¿FOI TUDO UM MAL-ENTENDIDO!

Carlos Novaes, 02 de agosto de 2017

Vinha naquela a tempo suficiente para filosofar sobre como é difícil dar um ponto de origem a situações assim desafiadoras (chamava-a assim porque era um forte; do contrário, a situação seria simplesmente penosa). De início pensara que o começo de tudo se dera pouco depois da viuvez do amigo e sócio. Conjeturas depois, porém, o arrastaram para o tempo em que a irmã da esposa ainda vivia (sim, o amigo e sócio casara com irmã da mulher dele). Era assim que, nos dias ruins, como ele dizia, ficava a alimentar suspeitas, em flaches selecionados da rotina de remotos encontros de família, ou de desencontros no escritório, exercício em que banalidades como olhares, risadas, coincidências de horário e trocas de presentes adquiriam sentidos novos, aumentando o desafio do que havia para esclarecer naquela história.

Uma história assim conhecida reclama desfecho rápido. Deve ser por isso que estamos no meio do dia em que tudo se esclareceu (ou não?). É que ele acaba de saber, como se vivesse num plantão de notícias, o endereço em que os fatos estão a se dar. Quase submerso nas evidências, respirando indícios contrários como podia, sempre determinado a não perder o pé na realidade (uma especialidade de que se orgulhava: sua capacidade de se manter íntimo da realidade, uma outra maneira de dizer de sua afeição pelo mundo como ele é), nosso homem partiu ao encontro do seu destino (sim, ele tinha ímpetos dramáticos).

Não percamos tempo com o embate de sentimentos que o acompanha pelo caminho, nem relatemos os escrúpulos de procurador com que examina a área. Ele espera, a hora chega e, quando eles saem juntos no carro do sócio, nosso homem pula para o meio da rua, pára tudo e parte para o lado do carona. Ainda dentro do carro ela pergunta se aconteceu alguma coisa em casa, ele esbraveja suas suspeitas, ela abre a porta e parte para cima dele com a indignação que seria de uma leoa, se leoas se indignassem, e passa a chamá-lo de volta à realidade: explica que o cunhado, sabidamente inconsolável com a morte da irmã dela, enfatizou esse “irmã”, pedira a ela, claro, para acompanha-lo naquela visita sentimental ao quarto de tantas escapadas. O amigo, ainda ao volante, espera, compungido e confiante, o desfecho da cena, que se conclui quando o segurança intervém para restaurar a ordem na fachada do estabelecimento.

Ela pergunta onde ele parou o carro, reclama da lonjura, que a obriga a andar pela rua, enquanto informa que o dela ficara no cabeleireiro. Já em casa ela vai para o banho e ele, roído em culpas, invade o quarto, a tempo de vê-la já sem a blusa, apenas com o sutiã rendado do conjunto novo. Ele corre e a retém, ela luta para ir ao banho, ele a segura, enfia a mão por baixo da saia, e o tesão aumenta quando descobre que ela está sem calcinha.

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