Carlos Novaes, fevereiro de 2013
Nem todo mundo deve lembrar, mas Lula na presidência adulava Cabral e Campos com frases como “esses meninos tiram de mim o que querem”. E eles acreditaram. O problema é que só se tira do Lula o que ele quer que tirem dele. Bem aos pouquinhos, tanto Campos como Cabral vão se dando conta de que os meninos do Lula são Haddad e Lindenberg. Comecemos do início.
Os desdobramentos do chamado mensalão e do caso dos “aloprados” removeram da sucessão presidencial vários nomes da geração sênior do PT, tendo restado apenas dois políticos com envergadura para a presidência: Tarso Genro e Marta Suplicy. Nenhum dos dois, porém, com possibilidades de conseguir emplacar na cabeça de chapa: Tarso Genro, pelas suas qualidades, sempre se viu barrado pela burocracia petista, a quem desagradou ainda mais com as posições republicanas que assumiu no caso do mensalão ; Marta porque se deixou enredar pelas ambições precipitadas de parte da burocracia petista paulistana, travestidas, como sempre, num ardiloso ultra petismo, e escanteou o PMDB paulista, no que acabou por colidir com os interesses de Lula na presidência, que buscava consolidar a hoje consagrada parceria com o mesmo PMDB, que tem em Cabral um dos quadros que mais foi mimado por Lula.
Resultados da situação sumariada acima foram a escolha de Dilma-Themer para suceder Lula e a constatação de que o PT não dispunha de uma geração intermediária com possibilidades eleitorais para a presidência. Até as eleições de 2012 a movimentação de Eduardo Campos deve ser observada com esse cenário de fundo: cumprisse um ou dois mandatos, Dilma significava o marco a partir do qual Campos desataria as próprias ambições. Se Dilma viesse a dar lugar a Lula em 2014, Campos buscaria a condição de vice de Lula no sonho de sucede-lo já em 2018, sonho esse embalado pela benevolência esperta com que o líder máximo do PT sempre o mimoseou. Se Dilma buscasse a reeleição, Campos disputaria em 2018 na condição de titular da posição de protagonista da nova geração, pois o PT não disporia de rival nacional viável.
Os apuros do governador de PE começaram quando Lula viu que precisava contornar o mensalão e agiu para preencher o vazio geracional na esfera nacional petista lançando Haddad e Porchman como candidatos a prefeito em São Paulo e Campinas em 2012. O PSB de SP resistiu o quanto pôde a apoiar Haddad, e muitos viram nisso uma ação local. Nada mais ingênuo: a resistência era nacional, pois não pode haver escapado a Eduardo Campos que Haddad eleito em SP significaria o sepultamento de seus sonhos de contar com Lula e seu PT, quer em 2014, 2018, 2022… Como sempre, Lula cortejou Campos até conseguir o apoio a Haddad, mas agora o neto de Arraes sabia que estava a receber um abraço de urso. Vem dessas circunstâncias a tranqüilidade com que o PSB acolheu a atribulada e danosa decisão de Luiza Erundina de deixar a condição de vice na chapa de Haddad: o que Campos mais queria era criar problemas para uma vitória do petista.
Haddad prefeito da maior cidade do país tem tudo para ser o candidato a presidente do PT em 2018 e Campos precisa redefinir seu jogo, pois 2018 ficou longe demais. O problema é que Lula, pelo qual, assim como seu partidário Ciro, ele se deixara levar, está sempre um passo à frente. Ao antecipar o início da campanha de 2014 Lula aperta os parafusos a ponto de faze-los cantar: Eduardo Campos terminou por se dar conta de que se quiser a presidência terá de a disputar contra a força do metalúrgico astuto – fim de tango.
Sergio Cabral, cujas ambições são regionais, até porque seu peso partidário nacional é pequeno, começa a ver o que lhe deveria ter estado claro há muito tempo: o que Lula fez — só até conseguir o PMDB paulista e, com ele, o nacional — não foi domesticar o PT do Rio, mas apenas procrastinar o desabrochar de uma ambição local que o PMDB fluminense ajudou a incubar. Ao obter êxitos junto ao eleitorado popular da baixada fluminense através de Lindenberg e ao dividir o ninho carioca com o PMDB, o PT como que superou seus problemas na populosa zona oeste da capital e já não há como barrar (e seria a terceira vez!) uma postulação custosa mas viável ao governo do estado. As reações ventríloquas de parte do PMDB do Rio à movimentação de Lindenberg têm sido tão impertinentes que o ajudam, pois obrigam setores minoritários do próprio PT a defenderem publicamente o direito a uma candidatura própria que não almejam, de olho que estão na vice do até aqui competitivo Pezão. Dessa vez o Rio terá um forte candidato do PT ao governo do Estado e Cabral verá que os arrulhos vão se tornando um rufar de tambores.