A FRAQUEZA DA PRESIDENTA, QUE PARECE FORTE

Carlos Novaes, abril de 2013

A presidenta Dilma almeja a reeleição. A lei dá a ela o direito de pleitear um segundo mandato e seu trabalho como governante vem sendo crescentemente bem avaliado pelo eleitorado ouvido em pesquisas confiáveis. Entretanto, ninguém pode dar como certa a sua candidatura em 2014 e a razão é uma só: Lula pode querer ser candidato.

Ou seja, numa situação inédita, a titular do mais alto posto político do país não é senhora da própria vontade quando se trata de disputá-lo uma segunda vez. Deixemos claro esse ineditismo: todo o poder dela se dissipa ante a vontade de uma outra pessoa, pois se Lula disser que quer ser candidato a presidente em 2014 a presidenta Dilma não terá como sê-lo — ela nem teria como enfrentá-lo nas urnas, e muito menos poderia disputar com ele a indicação partidária do PT.

Exceto problemas intransponíveis de ordem pessoal, nada pode impedir Lula de querer voltar a ser presidente já em 2014. Ele pode não querer, mas não há indicações disso, pelo contrário: no transcurso do tempo Lula tem dado declarações que em nada desencorajam o “volta Lula”, ora quando se recusa a “prever o futuro”; logo adiante quando se diz pronto a fazer política na ruas; mais recentemente quando se faz fotografar em reunião de trabalho com o prefeito de São Paulo recém empossado, ambos acompanhados de seus respectivos ministeriáveis e secretários;  ou ainda quando se declara dedicado a costurar o arco de alianças partidárias para a disputa presidencial de 2014. Vistos de longe, esses gestos aparecem como uma sucessão de estacas cuidadosamente fincadas na demarcação do caminho de volta.

Cada nova declaração ou situação criada por ele enfraquece a condição da presidenta como candidata. Em resposta, na sua aparição recente em cadeia nacional, a presidenta fez dois pronunciamentos dentro de um. No primeiro, Dilma tratou da diminuição do preço da energia elétrica; no segundo, ela explicitou toda a fragilidade da sua condição de candidata, pois se empenhou sobretudo em afastar o fantasma do “volta Lula” num texto que só os ingênuos enxergaram como de combate à oposição. A enumeração do que o petismo encara como feitos de sua era presidencial, por contraste com “aqueles do contra”, apenas subalternamente visou a oposição  — o que se buscou ali foi sobretudo fazer de Dilma a titular em exercício de todo o presumido legado dos últimos 10 anos, para ocupar terreno contra o “volta Lula” dentro do próprio petismo e na opinião pública mais geral. As chances de sucesso são pequenas.

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