Carlos Novaes, 26 de agosto de 2015
Sigo entendendo que o menos ruim para o país é Dilma cumprir seu mandato, pelo menos enquanto não houver evidência de crime seu. Por isso, embora faça o registro do quão lamentável é o acordo em curso para mantê-la no cargo, não deixo de ver a vantagem que ele tem para aqueles que seguem na busca de caminhos para enfrentar a desigualdade brasileira: a permanência de Dilma impede que a presidência seja definitiva e diretamente entregue aos esquemas de poder e ao reacionarismo que hegemonizam o poder Legislativo. A permanência dela nos dá tempo, até porque a falta de alternativa para nós é notória, dada, de um lado, a burocratização e a oligarquização que marcam os autointitulados movimentos de esquerda e, de outro, a desmoralização em que se acha a não menos autointitulada variante política da sustentabilidade.
Dito isto, fica cada vez mais claro que a presidente e os que a cercam não ajudam. Suas declarações e anúncios dos últimos dias mostram não apenas a fragilidade política do núcleo do poder, mas, sobretudo, seu despreparo para entender a complexidade da situação em que estão metidos, mesmo depois de o tempo já ter indicado os vetores mais evidentes da situação adversa: o primeiro vetor é a absoluta inutilidade de qualquer mea-culpa; o segundo é a total falta de credibilidade de Dilma para prometer o quer que seja.
Fazer mea-culpa é dar carne a leões que, por definição, pedirão sempre mais. Fazer promessas é abrir o flanco para o escárnio público, que se fará cada vez mais merecido a cada promessa. A única coisa que Dilma pode fazer é agir. Se entendeu ter errado, tome atitudes para corrigir os erros; se quer realizar mudanças, faça de sua realização o anúncio mesmo delas. De modo que nada poderia ter sido pior do que as atitudes recém-tomadas pela presidente: chamou a imprensa para dizer que errou e anunciou um corte de ministérios e de cargos comissionados quando não tem sequer um plano claro de como rearranjar e o que cortar! Dilma ainda não entendeu que o seu tempo acabou, o que resta é, quando muito, um penoso mandato.
Como, na prática, reconhecer erros implica alterar a condução da economia na direção contrária ao discurso demagógico do PT (que aceitou caladinho o arrocho do Lula no primeiro mandato); como, na prática, diminuir ministérios e cargos comissionados vai exigir sacrificar postos hoje ocupados pelo PT (em nome dos quais o partido abriu mão de suas bandeiras), e como essas duas mudanças iriam, de um lado, ao encontro do que a opinião pública tem sido levada a entender como acertado (especialmente em razão de o PT estar atolado em corrupção) e, de outro, criariam desafios novos para a sustentação do governo no Legislativo, Dilma deveria se desfiliar do PT e conduzir o que vier a lhe restar de mandato fora de qualquer partido.
Isso mexeria profundamente com a vida política do país.