MARINA FEZ O MELHOR, NAS CIRCUNSTÂNCIAS

Carlos Novaes, 6 de outubro de 2013

Ao anunciar filiação ao PSB, robustecendo a candidatura de Eduardo Campos e abrindo a possibilidade de ser a candidata a vice-presidente na chapa do pernambucano, a ex-senadora Marina Silva deu seu único passo político realmente acertado desde a entrada no PV, em julho de 2009, ocasião em que filiou-se aos verdes com o compromisso de primeiro mudar o partido e, só depois, ser candidata a presidente. Naquela altura, em mais uma das suas demonstrações de pragmatismo confuso, ela logo abandonou o projeto de mudar o PV e entrou de cabeça numa campanha que só quem sempre subestimou o lugar da acreana na disputa pôde receber como “vitória” seu desfecho nos propalados “quase 20 milhões” de votos. Não fossem os muitíssimos erros cometidos, ela poderia ter realizado todo o seu potencial e disputado o segundo turno naquela eleição.

O acerto de Marina dessa vez está em ter aceito a consequência obvia da situação em que se meteu e para a qual arrastou os que se submetem ao estilo de mando político ventríloquo centralizado que ela parece protagonizar. Deixando de lado a inacreditável demora entre a já de si tardia saída do PV e o lançamento à água da proposta do novo partido, a qual foi a responsável pelo injusto malogro nas areias do TSE, Marina e quem ela ouve estavam atados a três estais: um presumido inovador projeto partidário programático, uma candidatura presidencial dela própria e o diagnóstico de que a nociva, e falsa, polarização PTxPSDB precisa ser desconstruída. A única maneira de manter os três cabos esticados seria ter a Rede legalizada para as eleições de 2014. Excluída essa possibilidade, era necessário decidir que perna(s) sacrificar, tendo em mente o menor dano político na opinião pública, vale dizer, escolher a alternativa mais coerente com a prática e o discurso exibidos publicamente até aqui.

O que parecia o caminho natural para muitos dos seus seguidores teria resultado no maior erro, ou seja, insistir na candidatura presidencial. Depois de ter protagonizado essa épica empreitada atabalhoada da chamada Rede, com tudo que se pregou de inovador, programático, ético, etc, filiar-se a outro partido apenas para ser candidata escancararia de saída um pragmatismo que em 2009 ficara velado pelos acenos iniciais de “ressignificar” o PV. Descartar essa alternativa era a única maneira de buscar preservar os outros dois compromissos, pois uma candidatura por partido nanico e gelatinoso (incluído aí o PPS, esse pacman que até anteontem, literalmente, estava à espera de José Serra!) comprometeria o projeto da Rede e não daria contribuição para o fim da polarização falsa, uma vez que ela própria, a candidatura, seria falsa. Optar pela dedicação exclusiva ao projeto de construir o novo partido seria uma escolha aceitável, mas pouco contribuiria para o fim do clinch PSDBxPT e, ademais, deixaria Marina sem lugar direto na eleição presidencial de 2014.

Nessa ordem de idéias, entrar na candidatura presidencial de Eduardo Campos com um embarque no partido dele e preservando o projeto de construção do seu próprio partido foi a melhor jogada, nas circunstâncias, mesmo que ao fazê-la Marina esteja, involuntariamente, encorpando o praticamente inevitável “volta Lula” – e de duas maneiras: ao tornar a candidatura de Campos viável, ela ajuda Lula a “entender” que só ele pode salvar a continuidade do projeto petista e abre caminho para que Campos venha a realizar seu verdadeiro sonho: ser o vice de Lula, pois só o ex-presidente tem cacife para garantir ao PMDB que nada será perdido se eles forem desalojados da vice para o bem dos negócios comuns: há muitos ministérios.

Se as coisas se passarem assim, Marina não ficará de todo mal, mas também não ficará bem, pois entrar em cartaz no papel de “Ciro Gomes” nunca é exatamente promessa de sucesso de bilheteria.

4 pensou em “MARINA FEZ O MELHOR, NAS CIRCUNSTÂNCIAS

  1. maria neuza de o brandão

    se marina nao e a opcão entao em kem devo votar pois estou discreta em todos em kem ja votei ate hoje pencei em votar em branco pois dilma nunca mas por nao ter em kem votar pencei em apostar nela mas gostaria de uma melhor opinião obrigado maria neuza

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    1. Soraia Kuya

      Oi Maria Neuza, tá difícil, né? e eu q achava (há uns 15 anos atrás) q quem votava em branco/nulo era alienado, agora tô mais perdida.. não tenho vontade nenhuma d votar em ninguém.. e já foi assim quando votei em Plínio, Marina Silva, sem esperanças; só q agora pior, a coisa se agrava a cada eleição. se já não punha fé no PSB/Rede, Marina S. não se explica: contraditória, furtiva até em questões inegociáveis para uma.. ex(?)-ambientalista. se votar o bicho pega, se não votar o bicho come..

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  2. Soraia Kuya

    Oi Novaes!
    Será, seu título? Tento entender Marina Silva, principalmente pelas suas explicações, e à luz/sombra do passado dela (acreana corajosa, amiga de Chico Mendes, etc..) mas tem algo com ela q não me passa: um ranço dos meus professores chatos, só teoria de faculdade? sua saída tão tardia do PT, quando já restavam só a hierarquia burocrata e/ou fanáticos, q nem admitem PT = PSDB (desde 2000?) ?
    E mais ainda, Marina Silva não me passa, depois q (aqui talvez só vc possa me explicar, por favor) saiu do PT + ou – quando da aprovação de Angra 3, sem fazer alarde, foi assim, ou como? Por quê? Verde? Até esse nome Rede (Sustentabilidade), sempre me pareceu meio prolixo se considerarmos o papel dela durante Angra 3, o novo código florestal, etc. coisas já a ponto de estourar, talvez quando ela, estrategicamente, pulou fora?
    E agora sóbrios e sorridentes, ela e Eduardo Campos, em preto e branco (tão marketeiros como os outros) vêm querer nos dizer q ‘tivemos ganhos ambientais (quando ela era ministra?) e só agora retrocedemos (sem ela)? – vide aquele vídeo do programa nacional do PSB-Rede, se achando os “filhos da esperança”..
    Da frágil esperança q eu tinha em Marina Silva, q era pouca e se acabou, agora só restou este vídeo tão fraquinho pra me relembrar dela ainda mais apagada em preto e branco..

    Quem sabe vc possa explicar cenas dos capítulos anteriores de tal filme tão tristinho, daquela época em q se desatinou em Angra 3/2007/2008, especialmente, por favor.

    Obrigada, e, saudades de vc na TV Cultura, dando vida àquele jornal cada dia mais desenganado.

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    1. Carlos Novaes

      É como eu disse, Soraia: “O acerto de Marina dessa vez está em ter aceito a consequência obvia da situação em que se meteu e para a qual arrastou os que se submetem ao estilo de mando político ventríloquo centralizado que ela parece protagonizar.” Nas circunstâncias…

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